Durante o processo de consolidação da alfabetização, é possível perceber alguns erros relacionados à ortografia na produção escrita da criança. Esse fato pode ser explicado porque ela ainda não compreende que a escrita é regida por uma convenção ortográfica. Segundo Morais (2002:8) “ortografia é um tipo de saber resultante de uma convenção, de negociação social e que assume um caráter normatizador, prescritivo”. Saber a diferença entre essas correspondências ortográficas é ponto de partida para que os docentes possam organizar seu ensino.
As *REGULARES DIRETAS* são aquelas em que um grafema sempre representa um único som, é o caso das trocas (surdas-sonoras) P/B, T/D, F/V em palavras como “vaca” e “faca”. Além das trocas M e N no início da sílaba e outras trocas como K/G e X/J.
As *REGULARES CONTEXTUAIS* estão relacionadas ao contexto de aparecimento do grafema, como, por exemplo, o uso QU antes das vogais E ou I para produzir o som do /k/. Segue a lista das dificuldades:
- I em palavras como “aqui” (fonema /i/ tônico final) e E em “mole” (som /i/ final átomo);
- U em palavras como “bambu” (fonema /u/ tônico final) e O em “ato” (som /u/ final átomo);
- Uso do R ou RR;
- Uso do G ou GU;
- Uso do C ou QU com som de /k/;
- J combinado com A, O, U;
- Z em palavras começadas por esse som, com em “zebra”;
- S no início de palavras seguidas de A, O, U;
- M, N, NH, ~ como marcas de nasalização.
As *MORFOLÓGICO-GRAMATICAIS* são compostas de regras que envolvem morfemas tanto ligados à formação de palavras por derivação lexical como por flexão (MORAIS, 1998), ou seja, nesses casos, são os aspectos gramaticais que determinam o grafema que será usado. São elas:
- Final ÊS ou ESA para adjetivos pátrios e títulos de nobreza (“chinês”, “chinesa”, “marquês”);
- Final EZ ou EZA para substantivos derivados de adjetivos (“rapidez”, “beleza”);
- Final L para adjetivos terminados em /aw/ (“legal”, “genial”);
- Final L para coletivos terminados em /aw/ (“cafezal”, “bananal”);
- S em adjetivos terminados em [ozu] (“talentoso”, “famoso”);
- U final para a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo (“comprou”, “comeu”, “dormiu”);
- Final ÃO para flexões verbais da 3ª pessoa do plural no futuro (“tentarão”, “sairão”) e AM em todas as outras;
- 3ª pessoa do plural terminada em /ãw/ (“perceberam”, “percebam”, “percebiam”);
- SS nas flexões do imperfeito do subjuntivo (“cantasse”, “pedisse”);
- D nos gerúndios, mesmo que não seja pronunciado em certos dialetos (“andando”, “comendo”, “indo”);
- R nos infinitivos, apesar de não ser pronunciada em quase todas as regiões do país (“cantar”, “sair”, “comer”).
OBSERVAÇÃO: Na BNCC encontramos também os sufixos: -agem e -izar/-isar.
As *CORRESPONDÊNCIAS IRREGULARES* requerem do aprendiz uma tarefa de memorização, são elas:
- O som de S (S/SS/SC/X/XC/XS/Ç/Z) em “seguro”, “cigarra”, “piscina”, “caçador”, “passarinho”, “nariz”, “exceto”, “auxílio”;
- O som de Z (Z/X/S) em “azedo”, “casa”, “exílio”;
- O som de G (G/J) em “girafa”, “jiló”, “geração” e “jeito”;
- O som de X (X/CH) em “enxada”, “chave”;
- O H inicial em “hospital”, “história”;
- A disputa entre E e I, O e U em sílabas átonas que não estão no final das palavras, como “cigarra/segundo”, “bonito/buraco”;
- A disputa do L e LH antes de certos ditongos orais, como “família”, “partilha”, “julho”, “Júlio”;
- Certos ditongos de pronúncia reduzida, (oi/ou/ei) como nas palavras “caixa”, “tesoura”, “peixe”.
No ensino da norma ortográfica, os casos de regularidades e irregularidades devem ser tratados de forma separada de acordo com sua especificidade.
TEXTO ADAPTADO: https://periodicos.ufpe.br/.../article/download/227/217/580
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